Baixa criminalidade e empregos: o que faz SC ter o metro quadrado mais caro do país?

Você já parou para pensar o que faz com que o valor do metro quadrado de um prédio ou casa seja mais caro em um lugar do que no outro? Pesquisas de mercado, indicadores nacionais e regionais ajudam a entender as características de cada localidade e também refletem outros fatores mais difíceis de medir, mas igualmente importantes e que influenciam diretamente na vida da população.

Florianópolis é 4ª cidade com o metro quadrado mais caro do Brasil; entenda o que torna a Capital tão valorizada

Florianópolis é 4ª cidade com o metro quadrado mais caro do Brasil; entenda o que torna a Capital tão valorizada – Foto: Flávio Tin/Arquivo ND

Conforme o Sinapi (Índice Nacional da Construção Civil) de janeiro de 2024, o custo médio para edificação por m² em Santa Catarina foi de R$ 1.985,70 – o maior valor entre os estados brasileiros – enquanto o índice nacional foi de R$ 1.725,52.

O Sinapi é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e leva em consideração o valor da mão de obra, equipamentos e materiais necessários para construção nas capitais.

Diferente de outros índices, como o CUB (Custo Unitário Básico), que é calculado pelos sindicatos da indústria da construção civil de cada estado e que considera também despesas administrativas.

Em Santa Catarina, o valor do CUB Residencial de fevereiro foi de R$ 2.755,41. Em outras palavras, é como se para construir uma casa de 70m², por exemplo, fossem gastos, em média, R$ 192.878,70. Sem contar o valor do terreno e outras variáveis do projeto.

Nem o CUB e nem o Sinapi refletem os custos reais e totais de uma obra, mas servem como orientadores para o planejamento orçamentário no setor da construção civil. Por exemplo, é comum que o CUB seja um dos indicadores utilizados para reajuste dos contratos de compra de apartamentos na planta.

Indo além do custo de construção, a pesquisa do FipeZAP avalia a variação do preço médio de venda de apartamentos prontos em 50 cidades brasileiras. O último relatório, mostra sete cidades catarinenses no ranking do m² mais caro do país, quatro delas no Top 10.

A cidade de Balneário Camboriú lidera o ranking, com o custo médio de venda por m² em R$ 12.822,00. Em último lugar está Betim, pertencente à região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais – que apresentou o valor de R$ 3.918,00. A média no país ficou em R$ 8.750,00.

Ranking das 50 cidades com mais variação de preço médio de venda de apartamentos prontos – Foto: Fipezap

Do relevo à baixa criminalidade: o deixa os imóveis de SC com o metro quadrado mais caro do país

O presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Catarina) e diretor técnico da Cota Empreendimentos Imobiliários, Marco Aurélio Alberton, destaca que o que influencia os números desses indicadores é um somatório de fatores.

  • Baixos índices de violência e de desemprego;
  • Alto valor do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), do PIB per capita e da cesta básica;
  • Desenvolvimento industrial;
  • Publicidade de bons indicadores fatores – o que aumenta o interesse das pessoas, principalmente aquelas com maior poder aquisitivo;
  • Alto valor da mão de obra; e
  • Especulação imobiliária.

Além disso, os índices são uma média e há cidades que “puxam” os valores para cima. Sendo assim, dentro do Estado, encontramos diferenças significativas entre os municípios. E dentro deles há grandes diferenças entre os bairros.

Alberton menciona a dificuldade e o alto custo de logística para instalação de uma obra na Capital, como por exemplo o relevo e a dinâmica da cidade. A limitação de espaço e, por consequência, a oferta de terrenos que ficam mais caros, em cidades como Balneário Camboriú, Itapema e Florianópolis.

Algo que também ocorre em algumas regiões do Estado, como Chapecó, no Oeste, por conta da força do agronegócio.

“Isso puxa a economia para cima. As pessoas passam a ter uma remuneração melhor, passa o mercado todo a usufruir disso. A economia fica mais pujante, o custo fica maior para todo mundo que está no seu entorno”, destaca Alberton.

Balneário Camboriú x Joinville

Santa Catarina é o estado com o m² mais caro do país

Santa Catarina é o estado com o m² mais caro do país – Foto: SECOM Balneário Camboriú/ Divulgação

Embora as duas cidades de Santa Catarina apareçam no ranking do FipeZAP, a distância de posições entre Balneário Camboriú e Joinville chama atenção também pelo valor do m² . As razões que ajudam a explicar essa diferença estão no perfil de cada uma.

Balneário Camboriú é um município litorâneo e com menos terrenos disponíveis. A cidade convive com diversos domicílios de uso sazonal, ou seja, que são ocupados durante a alta temporada com a chegada dos turistas, e que permanecem vazios na maior parte do ano.

Joinville, a cidade mais populosa do Estado, tem mais terrenos disponíveis e os empreendimentos residenciais são ocupados o ano todo. A indústria metalúrgica é forte na região, e a proximidade com esse tipo de indústria facilita a diminuição do custo efetivo de construção civil.

Por fim, há as características dos projetos arquitetônicos, visto que um prédio de alto padrão em Balneário Camboriú e um em Joinville guardam diferenças significativas nos detalhes, como o uso de materiais com valor agregado ainda mais alto no primeiro que no segundo.

Apesar disso, é interessante notar que o salário médio mensal dos trabalhadores formais em Joinville é de 2,9 salários mínimos, maior que em Balneário Camboriú, que é de 2,5 salários mínimos, conforme dados do IBGE de 2021. O cálculo é feito com base nos rendimentos dos moradores das cidades.

Dado representa fatores positivos ou negativos – a depender da realidade financeira dos moradores

As vantagens e desvantagens de viver em um dos estados mais caros do país para construir e vender podem variar conforme o status social, os interesses e a realidade econômica de cada pessoa.

De acordo com o doutor em planejamento e desenvolvimento urbano e professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Elson Pereira, do ponto de vista geral da sociedade, a maior vantagem dos altos valores imobiliários é dos proprietários.

Já para o presidente do Sinduscon, Marco Aurélio Alberton, a geração de empregos diretos e indiretos ligados à construção civil e a oportunidade de atrair um público com mais poder aquisitivo às cidades turísticas por meio de um empreendimento com alto valor agregado, são algumas das principais vantagens.

Por outro lado, uma das desvantagens reside nesse mesmo mercado competitivo, pois embora o valor de venda seja maior, o número de pessoas capazes de adquirir um imóvel de alto padrão, por exemplo, é menor.

Diante de todos os fatores, Alberton entende que tudo faz parte de uma dinâmica natural do mercado e que, embora o comportamento do consumidor tenha mudado nas novas gerações, o sonho da casa própria persiste.

“O mercado é assim, as pessoas às vezes compram um apartamento pequeno, mudam para um melhor […] vamos sempre que possível melhorando. Faz parte da necessidade das pessoas, do desejo, do sonhar. E o sonho da casa própria ainda é forte nas pessoas.”

 

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