Enquete Parte 2 – Balneário Camboriú no futuro: como será?

Até para quem não é nativo ou vive aqui há muitos anos, o desenvolvimento acelerado de Balneário Camboriú está visível nas mudanças que não páram de acontecer. 

A busca por espaço em uma área de apenas 50 km2, onde vivem cerca de 150 mil pessoas, em uma infraestrutura que muitas vezes pede socorro, continua dependendo da verticalização, adotada nos anos 70 e que nos últimos anos começou a procurar alternativas, como derrubar construções antigas para erguer mais um arranha-céu. 

É uma espécie de BC 3.0, a terceira onda, que começou com casas de veraneio, passou por prédios de 20, 30 andares e agora tem o céu como limite.

A verticalização tornou-se uma disputa do ‘quanto mais alto melhor’, e Balneário Camboriú hoje concentra os 10 maiores prédios e ostenta o metro quadrado mais caro do país, uma situação que traz consequências sérias como, por exemplo, a mobilidade urbana e o rio poluído que ameaça as praias que são nossa principal atração turística.

Diante desta realidade e no mês em que o município comemora 60 anos, a reportagem do jornal Página 3 está ouvindo pessoas que moram há muitos anos em Balneário Camboriú, que acompanharam a ‘explosão’ desse balneário e que, via de regra, demonstram preocupação com o seu futuro. 

Balneário nas alturas (Foto: Rafael Mendes)

“Temos uma oportunidade para pensarmos nossa cidade para os próximos 10 anos, com a revisão do Plano Diretor”

Heloisa Figueiredo MouraArquiteta e urbanista, especialista em planejamento urbano e mestre em planejamento do ambiente construído

(Foto: Felipe Ciuro)

“O futuro de nossa cidade deve ser pensado de forma a garantir seu desenvolvimento sustentável, focado em uma alta qualidade ambiental, tanto com respeito à sua natureza e cenários únicos, quanto ao seu ambiente construído, focando seu usuário permanente e sazonal.

BC é hoje um modelo de conceito de urbanismo, tanto para o Estado de Santa Catarina como para o Brasil. Sua multifuncionalidade garantiu ser uma das cidades mais seguras e com os melhores índices de qualidade de vida do país.

Temos neste momento uma oportunidade para pensarmos nossa cidade para os próximos 10 anos, com a revisão do Plano Diretor e dirimir alguns pontos, os quais não foram previstos nos planejamentos anteriores, a exemplo: 

.A mobilidade urbana, integrando a malha urbana consolidada, conturbadas ou não, com algumas novas vias propostas em suas várias escalas, desde o transporte coletivo ao pedestre. 

.Aumentar a permeabilidade das superquadras com a criação de um sistema de caminhos ecológicos e vias de baixo impacto com ligação ao mar, rio, etc. 

.Implantar infraestrutura turística e de lazer nas áreas verdes e parques existentes e sua conectividade entre si e áreas verdes a fim. 

.Uso das morrarias com a finalidade turística e de contemplação ao mesmo tempo que coibiria  possíveis ocupações irregulares. 

.Estimular áreas de bairro com centralidade  e infraestrutura para moradores de média e baixa renda, possibilitando a inclusão social e mão de obra local para todos os tipos de função inerentes à cidade. 

.A criação de parques lineares com a utilização das bordas d’água, como áreas de circulação e lazer e sua integração entre os bairros  inclusive com o município vizinho de Camboriú. 

.A criação de novas zonas de centralidade e de densidade de construção em áreas ainda não consolidadas, mas central para a aplicação das outorgas onerosas e novas operações urbanas consolidadas, qualificando ainda mais o município, bem como transferência de potencial construtivo, esta última outorga poderia ser em benefício também dos bairros. 

.Utilização de modais alternativos hídricos com o uso dos rios e mar. 

.Criação de meios de integração entre os quatro territórios hoje desconectos por barreiras físicas, a BR-101 e naturais, o rio Camboriú. 

.Criação de uma nova modalidade econômica sem impacto ambiental. Prever as mudanças climáticas em relação as futuras ocupações. 

Estas seriam algumas das propostas que acredito serem relevantes para a continuidade do desenvolvimento de qualidade para a bela cidade que construímos”.


“O nosso futuro não está na construção desenfreada de prédios”

José Paulo Rau – Professor diretor de escola aposentado, há 40 anos morando entre a Terceira e a Quarta Avenida e acompanhado toda a transformação da cidade

(Arquivo Pessoal)

“Estamos vivenciando em nossa cidade uma triste ilusão, como cinema 3D. 

Prédios e prédios sendo construídos, vangloriando-se em grandeza por número de andares e por celebridades que os adquirem. 

Mas….a realidade é dura. 

Temos que conviver ainda com o “praia imprópria para banho”. O sistema de esgoto de nossos dejetos está obsoleto. Não existe qualidade de vida, se não existir saneamento básico! E não adianta, prédios e prédios sendo construídos, com 2, 3 e mais garagens, se o sistema viário está colapsado! E também não adianta construir estradas, pois nunca será suficiente se caminharmos nesse ritmo. 

Dias de chuva, o trânsito é caótico. Sem falar também em estacionamento para veículos! 

Para hoje e para as próximas décadas, se quisermos melhorar, temos que parar de nos maquiar. 

Investir no transporte público de qualidade. Não de graça, mas que atenda as necessidades da população. 

Educar e incentivar para o uso do transporte coletivo e também de bicicletas. 

O nosso futuro não está na construção desenfreada de prédios. Não podemos aceitar substituir nosso pequeno território já não tão ensolarado, por uma grande sombra de uma selva de prédios!”


“Teremos concursos para ver quem chega mais perto do céu e menos saraus da tainha na praça do Pescador”

Lenita Novaes – Psicóloga e atriz, mora em Balneário Camboriú desde 1977

(Arquivo Pessoal)

“A Balneário Camboriú do Futuro da forma que está se desenvolvendo vai ser uma cidade literalmente de pedra. 

E não só devido a especulação imobiliária e os prédios mais altos do mundo, mas também dos sujeitos rígidos e engomados que viverão na cidade. 

Teremos cada vez menos moradores nascidos aqui e cada vez menos transeuntes andando a pé ou curtindo a beira mar, o molhe e os mirantes.  

Teremos concursos para ver quem chega mais perto do céu e menos saraus da tainha no aconchego da praça do Pescador. Torcer para que mantenhamos vivos alguns bares e botecos da orla ou das avenidas para memorizarmos nas lembranças como era o Balneário do passado. 

Torcer para que a liberdade de expressão possa ser mantida mesmo com os altos comandos no poder. 

Mas também continuará sendo a planície gostosa onde escolhi viver com minha família, trabalhei com tanta gente competente e bonita e vivi grandes histórias que guardo com tanta alegria”.


“Precisamos ainda de muita coisa aqui, uma delas é investir forte para melhorar o trânsito”

Carmen Wegneraposentada, mora em Balneário Camboriú há 61 anos, fundadora da Tuti´s Pão, estabelecida na Avenida Brasil há 51 anos

(Arquivo Pessoal)

“Vi a cidade crescer, um crescimento sempre muito rápido e continua assim até hoje, tanto que dizem que é a Dubai Brasileira, mas precisamos ainda de muita coisa aqui. Uma delas é investir forte no o trânsito. Hoje se você tem uma consulta, uma reunião, um compromisso em Itajaí, tem que sair 2h antes. Isso não é normal. 

Há 20 anos, a arquiteta Heloisa fez um projeto de um monotrilho daqui até Itajaí, mas o projeto foi engavetado, nada aconteceu. Mas demonstra que há 20 anos já havia essa preocupação de melhorar o trânsito porque já estava complicado. 

Hoje com toda essa tecnologia que existe, por que ainda não temos nada para aliviar esse trânsito, que é uma loucura, quem trabalha tem que sair de madrugada para chegar no serviço. Os turistas que chegam de carro passam pela mesma situação. Mas até quando?

É um pedido meu, ver Balneário Camboriú com um trânsito fluindo por meios modernos, seja pelo ar ou subterrâneo. Seria uma atração turística e uma solução, um alívio para um problema que atinge todos nós, quem vive aqui e quem nos visita também. 

O segundo pedido cada vez mais importante para um futuro mais seguro, é que todos reflitam um pouco…tenho 90 anos e moro aqui há 61 anos, vejo uma grande falta de organização, disciplina e respeito no trânsito, existe mão e contramão para carro, mas não existe para patinete, bicicleta, vejo pais que levam filhos de 2, 3 anos para escola em um patinete, paradinho segurando na perna da mãe, sem capacete…isso é um suicídio, a entidade responsável pelo trânsito precisa cobrar do ciclista, do patinete respeitar as leis do trânsito. Vamos melhorar a questão do trânsito para um futuro melhor para Balneário Camboriú e para todos que nela vivem”. 


“Lá por 2054, BC e região, já terão construído igual ou mais do que construíram nestas seis décadas juntas (1964 a 2024)”

Antonio Jorge de BorbaGerente de Agência, aposentado da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

(Arquivo Pessoal)

“Como vejo Balneário Camboriú nas próximas seis décadas, ano 2084?

1)Praias Agrestes – todas verticalizadas, com muitos prédios construídos; 

2)O grande problema da podridão dos dois extremos da Avenida Atlântica (Barra Norte e Rio Camboriú na Barra Sul), estes talvez já resolvidos no início das próximas e futuras seis décadas; 

3)Construção de rodovia sobre o Costão, ligando a Barra Norte em Balneário Camboriú a Cabeçudas em Itajaí; 4)Considerando, que o engordamento atual de nossa Praia + infraestrutura que está por vir, possivelmente num curto espaço  de tempo se tornará insuficiente; 

5)Possivelmente será construída uma rodovia sobre o mar, ligando em linha reta a Barra Sul até Barra Norte, passando por trás da Ilha das Cabras, com rótula de retorno em 360 graus na Ilha, chegando na Barra Norte e ligando com a Estrada da Rainha e com bifurcação a direita ligando com a rodovia sobre o Costão até Cabeçudas em Itajaí; 

6) Quadruplicação da BR-101, em nossa região ou mudança da BR-101 para passar por dentro de Camboriú; 

7) O Centro de Camboriú terá bem poucas casas, mas terá muitos e muitos predios, Monte Alegre, Taboleiro, Conde Vila Verde e Canhanduba, serão um só municipio/emancipado; 

8)A partir do Centro de Camboriú, as estradas que ligam o Centro de Camboriú até o Braço, Vila Conceição, Macacos, etc…, serão cheias de prédios, inclusive estas localidades citadas também terão muitos prédios nesses próximos 60 anos; 

9)Falei um pouco de Camboriú, porque queiram ou não, o grande crescimento de Camboriú, é motivado pelo avanço vertiginoso do crescimento de Balneário Camboriú; 

10) Sobre infraestrutura e meio ambiente, educação, saúde, cultura, turismo, construção civil, se nos primeiros 60 anos, somos esse gigante, imagine nos próximos 60 anos. Cada vez mais, temos que estar conscientes para o futuro de nosso crescimento e desenvolvimento, para deixar um bom progresso, para nossas gerações, nossos descendentes e turistas, que são  a razão maior de nossa economia.

É bom lembrar que as seis décadas que se findam, grande parte dela, não tínhamos a tecnologia que temos hoje, principalmente o computador. 

Para estas próximas seis décadas (até 2084), tudo mudará, talvez na metade, lá por 2054, Balneário Camboriú e região, já terá construído igual ou mais do que foi construído em todas as seis primeiras décadas (1964 a 2024)”.


“BC será uma cidade cada vez mais em evidência por sua qualidade de vida”

Carlos Haackepresidente do Sinduscon de Balneário Camboriú e Camboriú

(Arquivo Pessoal)

“Vislumbro um futuro de prosperidade, progresso e beleza para nossa cidade. 

Alcançamos muito até aqui, e percorremos um longo caminho para chegar onde estamos. 

O perfil da nossa gente é de trabalho, de conquista, de superação constante, por isso, a Balneário Camboriú do futuro, na minha visão, será uma cidade cada vez mais em evidência por sua qualidade de vida, sempre inovando, se destacando nas mais diversas áreas, e servindo de referência e inspiração para outras cidades brasileiras. 

Isso nos motiva a seguirmos dando o nosso melhor em nossas atividades e trabalhando pelo melhor para Balneário Camboriú” 


“Imagino sentir no ar uma mensagem informando que nosso destino é apanhar as malas e buscar outro paradeiro”

Enéas Athanázio, escritor, residente em Balneário Camboriú há mais de três décadas

(Divulgação)

“Espiando o panorama de Balneário Camboriú, espanta-me a quantidade, o tamanho e a altura dos prédios construídos e dos que são anunciados. Eles brotam da noite para o dia como cogumelos em tempos de chuvaradas. Espanta-me, acima de tudo, o preço dos imóveis (salas e apartamentos), dos alugueres e taxas condominiais. Imagino sentir no ar uma mensagem subliminar informando que nós – os medianos – estamos sobrando e nosso destino é apanhar as malas e buscar outro paradeiro. 

Mas esta é a minha cidade, aqui planejei viver meus últimos anos, andando pelas calçadas (mesmo pisando em calcanhares), trafegando pelas ruas (ainda que engarrafadas), frequentando o comércio, os shoppings, os cinemas, meus restaurantes favoritos e os locais que me agradam. Tendo na lembrança, sempre, que estou a dois passos da praia, democrática e igualitária, imensa, linda e convidativa para o banho de sol ou o mergulho nas águas irrequietas do velho Atlântico.


“O futuro da cidade não pode se limitar a tijolo e cimento”

Waldemar Cezar Neto é jornalista e mora em Balneário Camboriú desde 1988

(Arquivo Pessoal)

“Acredito que todos que estão aqui há muito tempo sofremos da “síndrome do paraíso perdido”, que costumo resumir numa frase: “eu ia ao supermercado e conhecia todo mundo, hoje não conheço nem os caixas”.

Neste momento Balneário está discutindo um novo Plano Diretor que definirá seu futuro e acredito que não para melhor, mas para muito pior.

Durante seis décadas, sucessivos poderosos da cidade – que foram quebrando a cada ciclo, aplicando rumorosos golpes no mercado imobiliário- usaram e abusaram de Balneário Camboriú, fizeram o que quiseram com a ocupação e uso do solo.

Só não construíram na ilha, mas propostas neste sentido foram discutidas desde o governo H.Schultz.

Nesta nova revisão do Plano Diretor, os proprietários de terrenos nos bairros periféricos defendem que eles também tenham o direito de esculhambar a cidade, fazendo prédios a torto e a direito.

Se o velho da Havan pode fazer um prédio de 150 andares, por qual motivo seu Chiquinho da Vila Real não pode?

O raciocínio do suburbano está correto, as oportunidades devem ser para todos, ou ao menos não devem ser descaradamente desiguais.

O problema é que isso vai detonar a cidade em todos os sentidos, em poucos anos sofreremos na carne o que sofreram duas das ex-principais cidades turísticas do Brasil, Guarujá (arrastões, invasões, assaltos e latrocínios) e Angra dos Reis (22ª posição no ranking nacional das cidades mais violentas).

A desvalorização imobiliária será aguda.

Os dois últimos prefeitos, Piriquito e Fabrício, governaram com dinheiro transbordando do cofre, graças ao Plano Diretor que Rubens Spernau e Auri Pavoni construíram, gerador de uma fortuna que resistiu a administradores corruptos, ou negligentes ou incompetentes -coloque o chapéu quem queira, inclusive inumeráveis secretários, assessores, coordenadores e aspones.

Nenhum dos caras que passou por ali melhorou de maneira significativa a matriz econômica ou a educação profissionalizante, perdemos quase 16 anos que poderiam ter nos conduzido para um outro tipo de cidade, menos dependente de tijolo e cimento. 

Corremos o risco do novo Plano Diretor nos transformar num garimpo a céu aberto, e quando o ouro acabar ficará para trás aquilo que os garimpeiros costumam deixar, um rastro de problemas e destruição, com todas as consequências danosas para a qualidade de vida.

Balneário Camboriú é bonita, agradável e hospitaleira, merecia ser mais respeitada por todos.”


“O nosso maior patrimônio é e sempre será a Praia Central”

Hélvion Ribeirocirurgião dentista aposentado

(Arquivo Pessoal)

“Nossa cidade é e continuará sendo um ícone. Nosso maior e mais importante patrimônio é a Praia Central e sempre será.  

Tudo o mais ajuda , mas é acessório. 

Dito isto, cuidar da praia é prioridade sempre.

Sem a belíssima baía da praia, nossa cidade podia ter tudo o mais, mas o mesmo poderá ser feito em qualquer outra cidade, menos a praia. Ou melhor…as praias!

A construção civil  é um  marco muito importante e agrega imenso valor. 

A sofisticação vem tomando conta de restaurantes, bares e do comércio em geral, e tudo indica que seguirá assim.

É muito agradável ver os edifícios de diferentes alturas na avenida Atlântica, que remetem à ideia de movimento. Já não  é mais aqueles caixotes.     

As lições de Balneário Camboriú não foram suficientes para  despertar a qualidade em Itapema, que virou um corredor sem sentido.

Todo o litoral catarinense está explodindo. Bom para nós  também. 

Em algum momento será  instalado um hospital de ponta em nossa cidade. Carece.

Penso que a arte de alto nível e a cultura tem muito espaço  e necessidade para crescer.

Por fim cabe destacar que Balneário Camboriú não é  um lugar, é um sentimento”.

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