“Aos 33 não deveria me sentir surpreso”, por Waldemar Cezar Neto

O Página 3 completa hoje 33 anos e cada vez me sinto mais surpreso com o mundo que me rodeia, mas eu deveria ter desconfiado bem antes.

No ano 2000, quando surgiu e o Página 3 noticiou pela primeira vez o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), enquanto alunos da Europa (OCDE) obtinham média 500, os brasileiros obtiveram 396 em leitura, 334 em matemática e 375 em ciências.

Uma década depois, em nova avaliação com 65 países, os estudantes brasileiros ficaram à frente apenas de Colômbia, Kazaquistão, Argentina, Tunísia, Azerbaijão, Indonésia, Albânia, Catar, Panamá, Peru e Quirguistão.

Dessa forma, não deveria me surpreender que a maioria dos brasileiros, sem conseguir ler, ou lendo mais ou menos sem entender o que leram; incapazes de fazer contas ou de correlacionar a vida aos fatos científicos, tenham se tornado sumidades em infectologia, política internacional, economia etc, etc.

Se publicarmos no Página 3 uma notícia sobre vírus, não faltarão especialistas para comentá-la, inclusive com elucubrações político-religiosas-geopolíticas… porque afinal, todos sabemos, essas doenças são coisas de comunistas para prejudicar Israel e Javier Milei. 

Há poucos dias publicamos um texto qualquer com alguma crítica à administração municipal e um dos jovens apadrinhados do prefeito se sentiu na obrigação de emitir seu comentário de puxa saco: “Página 13”.

Nada menos original do que a ignorância, a burrice histórica e o desconhecimento, mormente quando isso se verifica entre aprendizes de jornalismo. 

Se achar no direito de adjetivar quem critica seu chefe governante é dar mostras de tendências nazifacistas, de se sentir no poder absoluto, “eu sou governo, cale-se, você é povo”.

Possivelmente esse rapaz, um cargo de confiança pago pela população, e outros que fazem a mesma coisa que ele fez, estivessem entre aqueles que no exame PISA de 2010, demonstraram conhecimento inferior aos estudantes da maioria dos países importantes no mundo.

A cada dois anos o aniversário do Página 3 coincide com uma época bem chata, as eleições, quando figuras de diferentes vertentes prometem coisas que não cumprirão, para um eleitorado que finge acreditar.

Invariavelmente o Página 3 é eleito para Cristo por um ou outro lado, pois políticos não suportam a existência de imprensa independente.

Porque a imprensa independente não combina com mentirosos contumazes, assaltantes do erário, gângsters da coisa pública, figuras que lamentavelmente predominam na história política brasileira, de zero a cem, do 13 ao 22.

Embora me irrite, estou vacinado, mas continuo o mesmo ranzinza e sempre aviso: não cuspa para cima porque vai cair em sua cabeça.

Waldemar Cezar Neto é editor chefe do jornal Página 3

Adicionar aos favoritos o Link permanente.