Dia dos Pais: afinal, os pais estão hoje mais presentes na educação dos filhos?

A figura patriarcal de algumas décadas atrás, quando o pai era o ‘comandante’, o provedor, que acompanhava de longe o crescimento dos filhos, porque saía de manhã e só voltava à noite do trabalho, que exigia respeito extremo, muitas vezes à força, foi substituída pela evolução familiar, depois que a mulher avançou e encontrou seu espaço, além das obrigações ‘do lar’ e dos cuidados dos filhos.

Mães começaram a trabalhar também fora do lar e o cenário mudou, porque os pais tiveram que assumir ou dividir tarefas domésticas e principalmente, ajudar na criação dos filhos. Tornaram-se pais muito mais presentes.

O avanço da tecnologia trouxe novas mudanças no ambiente familiar. Muitos pais puderam dividir melhor seu tempo, outros aproveitaram a evolução e passaram a trabalhar em casa até.

A pandemia tornou o home office uma realidade familiar nos tempos atuais. Os pais tornaram-se ainda mais presentes, porque passaram a acompanhar o dia-a-dia dos filhos dentro de casa.

Mas a era digital que não para de evoluir, também trouxe muita ‘correria’ e sobretudo isolamento familiar, porque pais e filhos tornaram-se dependentes do celular, tem pouco tempo para conversar, estão perto e longe ao mesmo tempo e não raro, dentro do mesmo ambiente, conversam mais por celular do que olho-no-olho.

Nesta reportagem alguns pais estão respondendo sobre o atual cenário: afinal os pais estão hoje mais presentes na educação dos filhos?

“Comemorar o Dia dos Pais é realmente lindo, mas lindo mesmo é ver um pai atuando de verdade”

Geninho Góes, empresário, é pai de cinco filhos adotivos junto com o parceiro, Duda, e dividem a rotina em família no Instagram @paiciencianapratica, onde acumulam 217 mil seguidores

(Arquivo Pessoal)

“Faço um desafio: Participe de uma reunião de pais na escola do seu filho, observe quem leva e busca na escola, pergunta para as crianças quem ajuda fazer tarefa, quem compra a roupinha dele, quem penteia o cabelo da menina, quem dá banho, acolhe na hora do choro, faz o jantar? A resposta em sua maioria será A MÃE. Cuidar dos filhos continua sendo tarefa da mãe. Embora os pais participem um pouco mais da rotina dos filhos, esse cuidado está longe de ser do papai.

Neste Dia dos Pais eu acredito que seja possível fazer essa reflexão. As mulheres foram para as empresas e contribuem para o orçamento familiar, mas continuam atuando em casa. Quem pega licença por alguns meses quando o filho nasce? A mãe.

Na sociedade moderna não existe compartilhamento de forma igual entre pais e mães, raras são as exceções.

Quando o casal se separa, geralmente com quem ficam os filhos? A mãe!

O pai em sua maioria é o provedor. Vivemos numa sociedade patriarcal. Faço uma pós em Educação Positiva com mais de 200 participantes e sou o único pai do grupo.

O pai ocupa um lugar na família, embora alguns estejam perdidos e afastados de sua função.

Comemorar o dia dos pais é realmente lindo, mas lindo mesmo é ver um pai atuando de verdade, cuidando, protegendo, brincando, tendo tempo de qualidade, instruindo, sendo exemplo para o filho. Temos que comemorar o dia por estes pais que realmente compartilham a responsabilidade na criação dos filhos com as mães. Eles existem!

Para os demais, é preciso que eles evoluam para aí sim poder comemorar verdadeiramente. Aqui em casa somos dois pais que compartilhamos a criação de 5 filhos, somos dois pais e fomos criados por mulheres… ou seja, não fugimos do cenário acima, mas estamos quebrando ciclos de uma sociedade heteronormativa”.


“Vejo que a sociedade mudou no conceito de família e responsabilidades”

Antônio Massoquetti, advogado, é pai de primeira viagem do pequeno Augusto, de três meses

(Foto Letícia Passos Fotografia)

“Faz apenas três meses que estou vivendo a experiência de ser pai, ainda numa fase de descobertas constantes, a cada dia vejo que meu filho se desenvolve, mas eu também vou aprendendo essa nova função.

No dia-a-dia vemos que nossa dinâmica dentro de casa mudou bastante e nesse momento adaptamos nosso cotidiano para atender o Augusto.

Como ambos temos nossos trabalhos, é importante que ambos colaborem para dividir os cuidados e tarefas, do bebê, da casa e do trabalho.

Em comparação com os tempos dos meus avós e pais, vejo que a sociedade mudou no conceito de família e responsabilidades, não existindo mais uma hierarquia familiar.

Esta mudança vem de uma evolução cultural, mas também por uma exigência financeira. E ao mesmo tempo que ambos precisam trabalhar para manter o sustento da casa, vejo que ambos também precisam colaborar para criação da família e nas tarefas domésticas também.

A presença do pai na vida do filho deixou de ser um “mérito”, mas uma necessidade para uma família sadia, sem contar que é sempre um prazer acompanhar cada novidade na vida do meu filho.

Chega a ser cômico, como muitas vezes temos que “virar uma chave” entre o profissional e a função paterna, num momento estou protocolando uma petição, no meu caso como advogado, no outro estou embalando a criança, ou às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. No final das contas, depois da paternidade todo esforço e empenho acaba tendo nome, sobrenome e CPF, pois ele se tornou o centro de tudo”.


“Hoje, muitos pais dividem as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos”

David Ricardo Prezzi, gerente de redes, é pai de Nicole, de 15 anos, Cecília, de sete e de Pedro, de três

David com a esposa Débora e os filhos Nicole, Cecília e Pedro (Arquivo Pessoal)

“Hoje em dia, os pais estão muito mais envolvidos na criação dos filhos do que antigamente. No passado, a paternidade costumava ser vista como um papel mais distante, focado apenas em sustentar financeiramente a família.

Hoje, muitos pais dividem as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos, participam ativamente do dia a dia das crianças e aproveitam licenças paternidade mais longas.

Essa mudança é fruto de uma transformação nas expectativas culturais, do avanço na igualdade de gênero e das novas formas de trabalho. Essas novas tendências ajudam a criar um modelo de paternidade mais engajado e consciente, embora ainda haja muito a fazer para que as responsabilidades sejam divididas de forma totalmente igualitária”.


“Quero ser a pessoa que ela mais confia no mundo”

Lucas “Sorin”, 31 anos, atleta de MMA e professor de SANDA, pai da Laura, 1 anos e 6 meses

(Arquivo Pessoal)

“Acho que não é uma conta exata, ainda hoje muitos pais, não são pais de verdade, talvez não tenham entendido a importância do papel de pai!

Pai cuida, educa, protege. O pai dá amor, carinho e afeto!

Eu faço questão de estar presente em tudo, a Laura mudou minha vida, minha cabeça, minha atitudes.

Hoje meu maior objetivo de vida é que ela tenha orgulho quando falar que é minha filha, é por isso que acordo e trabalho todos os dias. Quero estar presente em cada fase, quero deixá-la, quero ser a pessoa que ela mais confia no mundo e todos os dias ela saberá o quanto eu amo ser o pai dela!


“Pais estão mais próximos porque percebem que a realização pessoal está mais equilibrada”

Ramiro Álvaro Mayer, 61, administrador aposentado, pai do Thiago Álvaro Mayer, 31, designer e videomaker e Bruna Elisa Mayer, 26, designer

(Arquivo Pessoal)

“Hoje, observamos que os pais estão mais presentes na vida dos filhos. Acredito que isso se deve mais à mudança na compreensão do papel paterno do que a avanços tecnológicos, home office, entre outros fatores.

Pais estão mais próximos porque percebem que a realização pessoal está mais equilibrada quando consideramos a equação família + trabalho + qualidade de vida, em vez de se concentrar apenas no trabalho. Embora já víssemos indícios dessa mudança no passado recente, ela se tornou muito mais evidente agora, e torço para que continue se fortalecendo.

Vale lembrar que em Salmos 127:3 está escrito: “Os filhos são um presente do Senhor; são uma verdadeira bênção”.


“Quem tem que estar mudando somos nós, nos aprimorando, chegando mais perto da realidade”

Adelcio Bernardino, 72 anos, Policial Militar aposentado, pai de Adelcia, 49, Raphaella, 38 e Juliana, 12

(Foto: Silvia Cristina Bomm)

“Com a minha idade, vejo duas fases distintas. Eu tenho três filhas, e o que acontece, uma filha está perto de completar 40 anos e outra 50. As duas primeiras foram bem diferentes do que eu passo hoje, com a Juliana, que tem apenas 12.

Até a segunda filha, eu trabalhava o tempo todo fora, e chegava somente à noite. Então eu tinha que dar atenção, conversar, tinha que ter o tempo de brincar.

Todas as filhas sempre foram muito ligadas a mim.

Podia até ter sido diferente com a Juliana, com ela estou mais em casa, mais presente, mas não foi. A Juliana também sempre procurou minha companhia, mesmo eu estando em casa a maior parte do tempo.

As duas primeiras ficavam sob atenção materna, e as pessoas pensavam, “ah…você deve passar a mão na cabeça”, mas não era assim, eu conversava muito para passar os valores que aprendi com meus pais.

Com eles a gente não tinha essa proximidade, trabalhavam demais e dificilmente sentavam com a gente para ensinar, mas a gente como filho, procurava o diálogo com eles, para aprender sobre o futuro.

Mas hoje, devemos nos adaptar à realidade, essas novas tecnologias que dominam, e não tem como querer criar os filhos como há 40 anos.

Eu creio que quem tem que estar mudando somos nós, nos aprimorando, chegando mais perto da realidade, mesmo sendo conservador, mas não tem como.

No início a gente até queria restringir o celular, mas hoje até a escola se rendeu a isso, fazendo pesquisas e trabalhos pelo celular. Eu não imaginava dar um telefone para minha filha ainda criança. Isso exige o nosso monitoramento constante, o estar junto, pois a preocupação é grande.

Mesmo dentro de casa, com a internet, o perigo também está dentro de casa. É difícil a adaptação, porque em nossa época, a obediência era imposta com uma cinta, uma vara e a gente apanhava. Não era de muita conversa.

Eu ainda tinha um menino, que já se foi, criei como meu filho desde os seus 5 anos (estaria hoje com 55), mas nunca bati em meus filhos, sempre procurava conversar.

Muitos se admiravam, porque eles sempre me respeitaram, mas não era medo, era respeito mesmo ao mostrar o que eu passei.

Graças a Deus nunca bati, e hoje estão aí, vencedoras. Eu sou apaixonado por elas (lágrimas) e assim, falo e começo a me emocionar.

Em minha opinião, os pais de mais idade, tem que se adaptar, acompanhar, e ter conversa de igual pra igual. Tem muita coisa que elas vêm perguntar e a gente fica “boiando”, mas não dá para deixar a tecnologia inteiramente na mão das crianças. É muito bom, mas também muito perigoso. Agradeço a Deus por ter podido criá-las e poder ter dado o meu melhor sem ter que usar a violência”.


“São novos tempos, ou a gente se adapta ou ficamos reclamando e perdemos a evolução dos nossos filhos”

Paulo Luis Crocomo, 61 anos, Fisioterapeuta (aposentado), pai da Paola Zimmermann Crocomo, 31 anos, Doutora em Química

(Foto: Leila Crócomo)

“Difícil opinar sobre a presença de um pai na educação dos filhos, cada situação é de uma maneira particular, mas de uma forma geral acho que fica difícil comparar épocas.

Antigamente, numa sociedade mais patriarcal (podemos assim dizer), tudo se formou de maneira cultural e essa cultura foi evoluindo de forma gradativa, sendo impossível comparar antes do agora.

Às vezes me pego tentando dizer: “na minha época não era assim”. Claro que não, o mundo evoluiu.

Alguns dizem que nossa faixa etária foi a que presenciou uma grande mudança na forma de viver, principalmente em função da tecnologia.

Pode até parecer que atualmente, dentro do mesmo ambiente, alguns pais se comunicam com seus filhos mais pelo celular do que olho no olho mas, será que podemos criticar isso? Antes conversar pelo celular do que não conversar.

São novos tempos, ou a gente se adapta ou ficamos reclamando e perdemos a evolução dos nossos filhos.

A pandemia realmente mudou muita coisa nesse contexto, porém, olhando por outro ângulo, aprendemos a dar mais valor à vida, principalmente daqueles que mais amamos.

Particularmente, tenho uma única filha a qual mora em outro Continente, portanto a tecnologia é muito bem vinda e pode ter certeza que nos falamos muito mais agora do que antes.

A distância sempre é dificil, mas graças a evolução tecnológica posso participar um pouco mais da vida da minha filha, provavelmente muito mais do que outros pais de antigamente.

Enfim, na minha opinião a melhor forma de educar é participar da evolução do seu filho, seja de forma presencial ou tecnológica, tudo dentro do seu tempo.

Se eu sinto tanto orgulho da maneira como minha filha evoluiu e continua evoluindo, acho que deu certo”.

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