“A partir de amanhã, só online!”, por Fabiane Diniz

Aniversário do Página 3, e como de costume, todos os anos escrevemos um pouco sobre a trajetória do jornal. Fui convidada pela Lisi, fundadora e nossa editora-chefe, a contar para vocês um pouco sobre a evolução da tecnologia das publicações ao longo dos anos, e posso dizer como testemunha ocular e agente ativo dessas mudanças que só de pensar parece algo imensurável, mas aconteceu, e eu estava lá.

Na metade da década de 90 comecei a frequentar a sede do jornal, na 1520 como amiga da Carol, e através dela conheci os Cézars. Um dia o Marzinho precisou de pessoal para pesquisa eleitoral, a de 96 e me escalou junto com outros amigos da turma. Desde ali nunca mais parei de trabalhar no Página3.

Nesse período algumas áreas do jornal estavam trabalhando no analógico e outras no digital, onde eu poderia ajudar. O ‘Boss’ já tinha o domínio registrado ‘pagina3.com.br’ e publicava online todas as sextas-feiras a manchete de sábado, era uma tela com fundo amarelo e letras vermelhas se não me engano, bem primário, e costumava ter nove acessos, como devem imaginar. E para chegar ao online, na versão atual, foi um longo caminho.

O jornal era escrito em um programa simples de edição criado em DOS, depois esse texto saia de uma impressora na redação e colado em uma matriz para ser levado à gráfica, as imagens também eram impressas dessa mesma forma. A montagem do jornal era artesanal.

Com a popularização do Windows 95 houve muita mudança em todas as áreas, mas para o jornalismo o grande responsável foi o Adobe Pagemaker/InDesign, ele chegou para acabar com a arte de manusear matrizes de papel para impressão. Esse programa fornecia uma gama absurda de vantagens e uma das principais era a de fechar o Página3 em um cartucho, um disquete, um CD, um pendrive, até chegar ao ponto de mandar, as vezes cinquenta e tantas páginas para a gráfica em minutos pela internet.

E quando não tinha internet? Já aconteceu de uma vez eu e a Dani Sisnandes, em um dos fechamentos mais loucos da história, sair com um PC embaixo do braço na rua procurando lugar pra enviar o jornal para a gráfica.

O jornal era o impresso, todos os sábados ele ia para as bancas, fechávamos na sexta-feira, nosso horário com a gráfica era às 17h, falando agora parece que sempre deu tudo muito certo, mas não dava. O trabalho dentro de uma redação é insano, o nível de estresse é altíssimo, tenho muito respeito por cada um dos meus colegas. Não é brincadeira.

E puxando da memória, uma das tarefas mais bizarras do impresso, e que não desejo pro meu pior inimigo, porém fundamental, é a de imprimir etiquetas em uma matricial da década de 70. Socorro! Sofrido.

Vamos voltar pra história. Então, como estávamos ficando cada vez mais conectados na internet, todo o Brasil, em 2008 eu e a Carol começamos a criar paralelamente ao impresso o saudoso BlogP3, onde publicávamos algumas notícias durante a semana, as que não tinham ido para a banca, algumas complementares, e as de última hora.

Também tinhamos algumas editorias especiais do blog como o “Recomendamos”, “Nós Fomos” e o “Oh Lá em Casa”, com os bastidores da redação. Nesse espaço deixávamos que os leitores comentassem, ainda era fácil monitorar.

Passamos por várias fases nesse site, com enquetes, um ao vivo acompanhando julgamento, outro ao vivo acompanhando eleições, formato que existe até hoje, galeria de imagens, suplementos digitais, era um novo mundo para o jornalismo.

E óbvio que éramos sistematicamente bombardeados por comentários ofensivos do pessoal da secretaria de comunicação do governo da época. Eles sempre pensam que a gente não sabe, e que não tem como saber quem são.

Fiz na época tudo baseado em Joomla, um sistema gratuito de gestão de conteúdo web, e deu tão certo, e era tão acessado que o Marzinho encomendou o Página3 ‘Expresso’ para o mestre Thiago Passinato. A primeira versão do que está hoje no ar.

(Foto Sonia Trois)

Os tempos foram passando e o impresso acabou que ficou obsoleto, as bancas de jornais também foram sumindo das ruas, e foi nesse momento que começamos a diminuir o volume de impressão e nos dedicar mais ao online, ao noticiário diário. Até que um dia o Marzinho me ligou e disse, “a partir de amanhã, só online!”

São tantos anos e tantas tecnologias que já usamos no Página3 que não saberia elencar as principais, mas a gente faz tudo, gerenciamos o servidor, os bancos de dados, construímos os sites, administramos os anúncios, sempre fizemos tudo nós mesmos, do nosso jeito.

Hoje o auge são as redes sociais, algumas tiram o controle do editor de conteúdo, decidem o que entregar, quando entregar, pra quem entregar. Os leitores que estão nas redes sociais, onde estarão daqui alguns anos? As newsletters estão voltando com tudo, será? Não sei, o público hoje é outro, mais difícil eu diria, até porque não somos ilustradores ou ilusionistas.

Costumo dizer que a notícia ela tem camadas, é letrada, evolui. Nossos leitores também. E é isso, vamos nos adaptando às tecnologias para levar informação para os interessados, como fizemos durante todos esses últimos 33 anos.

Parabéns, Página3!

Fabiane Diniz é editora do Página3

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