“A base do jornalismo é, sempre foi e sempre será a entrevista”, por Renata Rutes

Eu tenho 11 anos de jornalismo. Sendo bem precisa – vou fazer 11 agora em agosto, um mês após o Página 3 completar 33 anos! E quando falo sobre minha trajetória no jornalismo, está 100% atrelada ao Página 3. 

Quando eu comecei no jornal, tínhamos o endereço físico: a redação. Hoje, toda a equipe faz home-office. A saudade ainda bate. 

Naquela época, boa parte das entrevistas que fazíamos eram presenciais – muitos entrevistados iam até o jornal ou então íamos até eles (neste momento lembro de algumas figurinhas ilustres que foram até o P3 – Vitor Kley algumas boas vezes, a atriz Regiane Alves, Thedy Corrêa do Nenhum de Nós, fora todos os moradores, políticos e amigos/fontes. 

Diariamente circulava muita gente por lá, nos chimas, papos e risadas). O dia a dia era: olho no olho, coletiva de imprensa, cobertura de eventos, na rua entrevistando moradores, turistas…

Lembro do verão, com aquele calorão, na rua, abordando turistas para as enquetes que fazíamos com frequência para o jornal impresso. Uma que me veio em mente agora foi a quando encerrou o estacionamento na Avenida Atlântica, do lado da praia, e a ciclofaixa estaria sendo implantada – se não estou enganada, o público ficou bem dividido e muitas pessoas se mostraram contra a ciclofaixa, pois achavam de suma importância as vagas ao longo da orla. Hoje, indiscutivelmente a ciclofaixa -mesmo sendo um pouco caótica rs- faz parte do ambiente da Avenida Atlântica de Balneário Camboriú e acredito que jamais seria substituída pelas vagas de estacionamento, né?

Enfim, retomando o assunto entrevistas – é claro que aconteciam entrevistas por telefone, mas as do dia a dia eram em sua maioria relacionadas às ocorrências policiais ou então para tirar dúvidas com a assessoria de imprensa da prefeitura. Eu, que sou repórter policial até hoje, ligava todos os dias logo que chegava na redação para o batalhão da PM e dos bombeiros para saber quais eram as ocorrências destaques. Hoje, temos grupo no WhatsApp entre imprensa e forças da segurança e boa parte das informações chegam pelo aplicativo. Afinal, hoje é possível, sim, fazer conteúdo jornalístico 100% com um smartphone – gravar, filmar, fotografar, escrever e enviar tudo, na hora, da rua mesmo, para publicação.

Entrevistando em mutirão de limpeza do rio Camboriú, em tempos de pandemia (Arquivo Pessoal)

Não ironicamente, se me perguntarem quais são as entrevistas que mais me marcaram sem dúvida alguma vou responder aquelas olho no olho, presenciais – no momento em que escrevo este texto lembro de algumas, como no Complexo Penitenciário da Canhanduba, com personalidades como Chitãozinho & Xororó, no complexo Music Park, a abertura do Teatro Municipal Bruno Nitz (que já tem mais de uma década), e as tantas conversas com moradores e, é claro, políticos! Já foram muitas coberturas na Câmara ao longo desses 11 anos que tenho de Página 3.

Apesar de saudosista, não nego que a tecnologia ajuda e MUITO! É claro que é uma ‘mão na roda’ poder chamar pelo WhatsApp, tirar uma dúvida ali para uma matéria, mas… eu não deixo de ligar. 

Enquanto vejo tantas pessoas falarem que não gostam de falar ao telefone, ligações (muitas!) fazem parte do meu dia a dia. Posso até acionar a fonte pelo WhatsApp e falar que preciso entrevistá-la, mas 99% das vezes vou pedir para ligar. Essa aproximação é o mínimo que precisamos ter para desenvolver a matéria a ser escrita. Porém, mesmo sendo mais fácil entrevistar por WhatsApp ou telefone, sem sombra de dúvidas a entrevista presencial, a cobertura do evento in loco, é infinitamente melhor.

Se me perguntassem sobre como eu enxergo o futuro do jornalismo… bem… eu espero que continue sendo o melhor dos dois mundo rs e que, nós profissionais da imprensa, não embarquemos na onda da facilidade que é fazer tudo por WhatsApp ou qualquer aplicativo do tipo. Nada substitui o lado humano, a conversa, a escuta… E olha que eu nem falei da Inteligência Artificial, né? Isso é assunto que renderia outro texto. Mas deixo aqui minha singela opinião: também é uma boa aliada, desde que para complementar e auxiliar o trabalho do jornalista, de forma alguma para trabalhar por você. Afinal, a base do jornalismo é, sempre foi e sempre será a entrevista.

Renata Rutes é repórter do jornal Página 3

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