Artista de SC entrega obra de arte folheada a ouro para craque do futebol americano: ‘Um marco’

Integrante da quarta geração de uma família de carpinteiros de Gaspar, no Vale do Itajaí, um catarinense realizou um sonho ao presentear seu grande ídolo. Quatro meses de trabalho, de próprio punho, foram necessários para uma obra de arte marcada por detalhes acurados, atentos e minimalistas, planejada para durar por toda uma vida.

No primeiro sábado (2) deste mês, o artista Cainã Gartner, de 33 anos de idade, entregou uma escultura feita por ele mesmo ao ex-jogador de futebol americano Tom Brady, que se aposentou ano passado.

Feita com madeira de imbuia e com seu interior folheado à ouro 23 quilates, o artista revelou detalhes da obra e do encontro com o craque, que aconteceu em São Paulo.

“Foi uma construção minha de quase 12 anos dedicados à arte trabalhada em madeira. (…) O encontro com Tom Brady surgiu através de um convite do Guilherme Benchimoll, CEO da XP Investimentos, e como eles estavam recebendo o Tom, ele sempre presenteia em grandes momentos da empresa a pessoa chamada, com uma obra de arte minha. Então, com a vinda do Tom Brady, a ideia de fazer a peça foi para estar eternizando esse momento dele, tanto pela XP quanto para que ele tivesse uma obra que representasse a carreira dele em si, porque ele se aposentou”, descreve Cainã.

Mesmo admirando o trabalho de Tom Brady, Cainã afirma que nunca teve a oportunidade de praticar futebol americano. “Até por ser algo de impacto, eu prefiro evitar, por causa do meu trabalho uma lesão seria prejudicial. E também não tenho fisicamente o porte e a genética para esse tipo de jogo”, opina o artista em madeira, aos risos.

Cainã revela que o início do seu contato com a modalidade foi entre 2018 e 2019, quando morava em Miami (EUA). O artista disse que recebeu um convite para fazer uma escultura em madeira durante o Super Bowl, mas que acabou voltando ao Brasil na época e o projeto não seguiu adiante.

Artista revela detalhes de obra entregue a Tom Brady

Mesmo que tenha voltado ao Brasil, Cainã ainda tinha uma camisa do jogador Tom Brady e continuou alimentando o sonho de um dia homenageá-lo.

Após ser informado que a oportunidade seria concretizada, o artista conta que teve quatro meses para planejar, desenhar e construir a escultura. O trabalho é composto por madeira de imbuia envelhecida, com idade de aproximadamente 250 anos (isso mesmo), parcialmente “fatiada” e com um cérebro em seu interior, folheado a ouro 23 quilates. Ele representa, segundo o artista, a aura da criação.

“Por isso que eu coloquei esse cérebro na parte de dentro, porque na verdade ele representa tudo o que passou pela cabeça dele, tudo que ele teve que ter de raciocínio e de pensamento. O foco está ali dentro dessa bola”, detalha.

Segundo o escultor, seu ídolo já possui todos os troféus possíveis na modalidade que o consagrou, mas na batalha da vida, Cainã acredita que Tom ainda terá um bom caminho a trilhar e sua expectativa é que a obra tenha espaço e acompanhamento eterno na sua vida.

Cainã espera que, da mesma forma que seus pais lhe repassaram os ensinamentos para a labuta no trabalho em madeira, Brady também mantenha a obra e mostre ela a seus filhos.

Artista fala sobre o futuro da profissão de carpinteiro

Em conversa com o ND+, o catarinense afirma que precisou se reinventar para continuar no segmento. Para ele, sua entrada inicialmente o segmento de decoração e posteriormente de arte, foram quase que naturais. Muito embora, Cainã destaque que isso foi indispensável para a sobrevivência do seu negócio.

“O que a minha família fazia chegou a um ponto que tinha dado. A China entrou, o plástico foi assumindo muito o seguimento das peças e eu fui meio que obrigado a me redescobrir, porque eu ou fechava a porta ou ficava batendo no mesmo prego. (…) Eram 20, 30 mil peças de cada modelo por mês que produzíamos e eu gostava de, com 15 anos de idade , já desenvolver novos produtos”, descreve.

O trabalhador afirma que o começo da adaptação foi difícil, mas pouco a pouco ele passou a ser procurado por amigos ou clientes que solicitavam esculturas mais elaboradas e que se dispunham a pagar valores mais elevados pelas obras. A riqueza nos detalhes e a criatividade sempre foram pontos que Cainã afirma buscar destacar.

Desde que iniciou esta “guinada” em sua carreira, há cerca de 10 anos, ele conta que num intervalo de três anos já vendia peças de arte ao mesmo valor que pequenas peças comuns, antes produzidas em larga escala, de 15 mil a 20 mil unidades.

Como surgiu a ideia de homenagear pessoas famosas

Mesmo que tenha ganhado repercussão a entrega da obra a Tom Brady, Cainã relembra que já fez homenagens semelhantes a Ayrton Senna, desenhando uma réplica em tamanho real de seu capacete, com o detalhe do patrocínio do Banco Nacional.

Além desta grande homenagem ao imortal campeão brasileiro das pistas de Fórmula 1, Cainã já retratou em obras atletas como o tenista Roger Federer, entre outros, e pretende não parar por aí.

“Tem um novo projeto já encaminhado com o Instituto Ayrton Senna, que vai ser um novo marco, tanto pra minha carreira quanto pra própria família Senna, isso aí em breve e de celebridade agora meu foco é o Michael Jordan”, revelou com exclusividade ao ND+.

Mesmo com projeção nacional e internacional, os trabalhos de Cainã Gartner ainda preservam detalhes que remontam à origem do trabalho feito familiar, na cidade de Gaspar.

Após conquistar grandes clientes para produção de esculturas em madeira a nível nacional e também internacional, o artista se mudou para Balneário Camboriú, no Litoral Norte Catarinense, em busca de mais oportunidades.

Em Balneário Camboriú, o local é mais prático e acessível pela proximidade com o aeroporto, segundo o artista. Cainã ainda mantém uma loja online onde expõe suas próprias esculturas.

A mais valiosa delas é um coração feito de madeira nobre, ouro 23 quilates, com base de granito preto absoluto, custando o valor de R$ 100 mil. Parte dos valores das esculturas também é revertida a projetos sociais, segundo o artista.

“Um dos fatores muito importantes para mim é a filantropia. No caso das obras do Ayrton Senna, eu doo 50% do valor ao Instituto Ayrton Senna, para ajudar as crianças. A madeira quando eu compro, tento fazer projeto em parceria com a Polícia Militar Ambiental, para ajudar crianças com neoplasia. (…) Enfim, eu tive muita ajuda durante a minha carreira, principalmente no início e até hoje, muitas pessoas me ajudam, então é uma forma de retribuir. O Brasil ainda é muito pobre em relação à cultura de arte, então o que eu posso estar agregando e ajudando e principalmente nas crianças, que são o futuro do nosso país”, finaliza.