MP precisou recomendar que Balneário Camboriú faça campanha sobre importância da imunização de crianças

A 4ª Promotoria de Justiça de Balneário Camboriú expediu uma recomendação à Secretaria Municipal de Saúde para que seja feita campanha sobre a importância da imunização de crianças, em especial contra poliomielite. 

O Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública do MPSC enviou às Promotorias de Justiça dados da Secretaria de Estado da Saúde sobre a baixa procura pela vacina em Santa Catarina (43,43% do público, menos da metade da cobertura vacinal preconizada, que é 95%). Em Balneário Camboriú, apenas 48,76% das crianças se imunizaram.

5.513 crianças imunizadas – 48,76%

A assessoria do MPSC lembra que a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecem que é dever da família, da sociedade e do Estado garantir o direito à saúde das crianças. 

Nesse contexto, os programas de imunização estão previstos em lei. O Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) encaminhou aos Promotores de Justiça com atuação na área da saúde em todo o estado dados da Secretaria de Estado da Saúde que apontam uma baixa adesão da vacina contra a poliomielite. Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE), no período da campanha, entre 27 de maio e 14 de junho, a média no estado ficou em menos de 44% de crianças vacinadas. 

Em Balneário Camboriú, foram 5.513 crianças de zero a quatro anos que tomaram a dose injetável ou a gotinha. Isso representa 48,76% das doses. Mesmo um pouco acima da média estadual, o número baixo de crianças imunizadas na cidade preocupa – uma vez que o índice ideal é de ao menos 95% de cobertura. Por isso, a 4ª Promotoria de Justiça da comarca, com atribuição na área da infância e juventude, expediu uma recomendação para que a prefeitura faça uma campanha educativa para esclarecer a população sobre a imunização obrigatória contra a poliomielite. 

Importância da imunização

Ao recomendar a campanha de sensibilização aos pais ou responsáveis, o Promotor de Justiça Alan Boettger sugere que o município use os meios de comunicação disponíveis, como veículos de rádio, TV, jornais e redes sociais, para promover a importância da vacina, com atenção para a da poliomielite, por causa do baixo índice de crianças imunizadas. 

A 4ª Promotoria de Justiça recomenda, ainda, que sejam ampliados os locais de vacinação, os dias e os horários de atendimento, bem como que sejam realizados mutirões, como o “Dia D”. 

É necessário fazer a busca ativa de crianças para serem imunizadas, usando a estratégia de saúde da família.

A recomendação foi expedida na quinta-feira (11) e o município tem 48 horas para responder se adotará as medidas propostas. 

“Que o município tenha especial atenção, neste momento, para a vacinação contra a poliomielite, que, segundo dados, apresenta baixa adesão em Balneário Camboriú. Importa registrar que a doença pode causar fraqueza muscular, paralisia e, em casos mais graves, a morte, de modo que a vacinação completa garante proteção e reduz o risco de sequelas permanentes associadas à poliomielite”, reforça o Promotor Alan.   

O MP também recomendou ao município determinar aos agentes comunitários de saúde que, ao tomarem conhecimento da omissão de pais ou responsáveis em atualizar o esquema vacinal dos filhos em determinada localidade, comuniquem o fato à chefia imediata para providências quanto a realização de esclarecimentos individuais ou campanha de conscientização direcionada. 

“Esclarecer as dúvidas abstendo-se de qualquer espécie de posicionamento pessoal, político, filosófico ou religioso”

Outro item importante da recomendação diz respeito ao direito à informação dos pais ou responsáveis pela criança. Nesse ponto, o documento expedido pela 4ª Promotoria de Justiça de Balneário Camboriú enfatiza que os servidores da saúde que atuam no atendimento devem esclarecer as dúvidas abstendo-se de qualquer espécie de posicionamento pessoal, político, filosófico ou religioso. Também se recomenda que a Secretaria Municipal de Saúde disponibilize profissionais – de preferência médicos – para esclarecer sobre a segurança e a eficácia da imunização nos locais de vacinação de Balneário Camboriú. 

Estratégias na área da educação

Nos ambientes escolares, tanto públicos quanto privados, a recomendação do MPSC é que a rede de Saúde do município estabeleça parcerias com a comunidade escolar, por meio do programa Saúde na Escola, para intensificar ações de educação em saúde que reflitam na prevenção de doenças e na melhoria dos índices de cobertura vacinal de crianças e adolescentes. 

Para Balneário Camboriú também foi recomendado designar um cronograma de vacinação em cada unidade escolar, com ciência prévia dos pais, com a possibilidade de acompanhamento dos responsáveis pela criança ou com autorização, em caso de ausência. 

Recomenda-se que os responsáveis pelas matrículas dos alunos na unidade de ensino verifiquem se as vacinas estão em dia, com especial atenção neste momento para a imunização contra a poliomielite. Caso não tenha sido possível a verificação no ato da matrícula, o MPSC recomenda que a direção da escola comunique por escrito os pais ou responsáveis para atualizar as informações da matrícula quanto ao esquema vacinal dos alunos, estabelecendo-se o prazo de 30 dias para a apresentação da caderneta atualizada ou de uma declaração da Secretaria Municipal de Saúde. 

Em nenhuma hipótese a matrícula e a frequência de alunos à escola devem ser dificultadas pela omissão dos pais e responsáveis em vacinar seus filhos, devendo, nesse caso, fazer as comunicações necessárias aos órgãos competentes. 

A recomendação pede que as unidades comuniquem os fatos ao Conselho Tutelar para providências, sob pena de infração administrativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. 

Vereador opina

O vereador Eduardo Zanatta (PT) vem acompanhando a situação, a qual ele vê que pode ter viés político, já que a cidade é predominantemente de direita e o movimento antivacina é algo forte no bolsonarismo. 

“Vejo o baixo índice de imunização é resultado de uma política negacionista, no sentido da importância da vacinação, de campanhas de imunização, que têm contribuído para a saúde da população há dois séculos. Desde o século 19, as vacinas são consideradas um avanço da saúde. Esse clima político contaminou setores da classe política de Balneário Camboriú, que estão desestimulando pessoas a se vacinarem, chegando ao cúmulo de precisar de recomendação do MP para a prefeitura fazer o seu trabalho, que é resguardar a saúde dos moradores e estimular a vacinação”, diz.

Zanatta fala diretamente sobre a polio – no Brasil, a doença está erradicada desde 1990, porém, com a cobertura vacinal abaixo da meta de 95%, aumenta o risco de retorno da circulação do vírus. 

“É absurdo termos que voltar a esse debate, mas precisamos falar. Desde o início do meu mandato trato da vacinação como prioridade para nossa população. Independente de quem está no comando da cidade é vergonhoso ter que receber uma recomendação do MP para fazer o trabalho que é obrigação na saúde pública – estimular as pessoas a se vacinarem”, completa.

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