‘Estornos estratégicos’: antes da prisão, Nego Di quis pagar ‘uns 10’ para abafar estelionatos

O influenciador Dilson Alves, conhecido como Nego Di, tentou ressarcir clientes que compraram e não receberam os produtos da loja ‘Tá Di Zuera’, aberta por ele em sociedade com o empresário Anderson Bonetti.

A intenção é revelada em um áudio, gravado antes de ele ser preso pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em 14 de julho. Na gravação, ele diz que precisa realizar ‘estornos estratégicos’ para ‘acabar com manifestação e incômodos’.

Nego Di tentou fazer 'estornos estratégicos' para abafar casos de estelionato

Nego Di tentou fazer ‘estornos estratégicos’ para abafar casos de estelionato – Foto: X/ Reprodução/ ND

‘Pagando vai dar uma boa amenizada’, diz Nego Di

A mensagem foi enviada por Nego Di para pedir ajuda com ‘uns dez mais’ que ‘pagando vai dar uma boa amenizada’. Ele se refere a uma relação de consumidores que reclamavam da loja ‘Tá Di Zuera’, que não devolvia o dinheiro e nem entregava os produtos vendidos online.

Segundo a Polícia Civil, 370 pessoas foram lesadas no esquema de estelionato só no Rio Grande do Sul. A investigação começou em 2022 e teve grande repercussão nas redes sociais.

“Acho que não é novidade pra ninguém, eu não vou conseguir ressarcir todas as pessoas, né?! Preciso fazer uns estornos estratégicos a fim de acabar com manifestação”, diz Nego Di, em um dos trechos da gravação.

As advogadas Tatiana Borsa e Camila Kersch, que defendem o humorista, informaram, através de nota, que ele iniciou o ressarcimento de clientes com intenção de “amenizar a situação, após uma série de perseguições” e que “após tomar conhecimento dos valores necessários para atender os compradores, o cliente vendeu um veículo para dar início os pagamentos”.

Ouça o áudio na íntegra:


Réu por estelionato

O influenciador é investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul há cerca de dois anos, por um esquema de venda de produtos em uma loja virtual. A ‘Tá Di Zuera’ alcançou receita de mais de R$ 5 milhões e o prejuízo às vítimas ultrapassa os R$ 300 mil.

Segundo a investigação, Nego Di se utilizava da fama conquistada através das aparições em programas de rádio e televisão para transmitir credibilidade à loja virtual. O estabelecimento funcionava em parceria com Anderson Boneti, apontado como mentor intelectual do esquema. Ambos foram presos em Santa Catarina.

Ainda em junho, o MPRS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) apresentou denúncia contra o influenciador, alegando que ele “utilizava  de sua popularidade para conferir credibilidade às promoções, sem promover a entrega dos bens às vítimas e nem ressarci-las dos valores pagos”. O poder Judiciário aceitou a denúncia e o tornou réu, ainda em junho.

Dentre os produtos revendidos, estavam aparelhos de ar condicionado, celulares e televisores. Os preços ofertados pela ‘Ta Di Zuera’ eram muito abaixo dos praticados pelo mercado.

Leia a nota da defesa na íntegra:

“Em relação ao áudio de Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, a defesa esclarece que seu cliente iniciou o ressarcimento de pessoas que compraram na loja em que ele prestou serviço de divulgação. A intenção foi, sim, amenizar a situação, após uma série de perseguições, sendo que havia facilidade de localização, por se tratar de uma pessoa pública.

Com o aparecimento em massa de pessoas que não realizaram qualquer compra no site em questão, Dilson concentrou esforços na identificação dos clientes reais. Após tomar conhecimento dos valores necessários para atender os compradores, o cliente vendeu um veículo para dar início os pagamentos. Fatos como o desconhecimento dos clientes e dos produtos vendidos, bem como toda a narrativa do processo, evidenciam a condição de Nego Di como vítima de um golpe, que resultou em danos irreversíveis para a sua imagem no Brasil.

Mesmo nessa posição, o influenciador digital, com boa fé, tentou solucionar o problema enquanto esteve em liberdade. A defesa lamenta, ainda, o constante vazamento de fragmentos do processo, que divulgados isoladamente, potencializam o pré-julgamento de seu cliente.”

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