40 anos da Polícia Militar Feminina de SC: PM de Balneário Camboriú atua há 26 anos na corporação

A Lei 6.209 de 1983 representou um marco na história das mulheres catarinenses. Aprovada pela Assembleia Legislativa, a norma criou o Pelotão de Polícia Militar Feminina do Estado de Santa Catarina. Foi a primeira vez, após mais de 140 anos de história da PM catarinense, que as mulheres puderam ingressar na carreira da Polícia Militar. A conquista histórica foi celebrada pela Assembleia Legislativa em ato parlamentar solene, na noite da última quarta-feira (7).

Para lembrar a data, o Página 3 entrevistou a 1° Sargento PM Vanuza Júlia Fortunato Martin, que atua em Balneário Camboriú há 26 anos.

Balneário Camboriú e Camboriú possuem, ao total, 160 policiais (49 em Camboriú e 111 em Balneário). Desses, 18 são mulheres – 16 atuam em Balneário Camboriú e apenas duas em Camboriú.

A Sargento Vanuza lembra que, inicialmente a Polícia Militar e, não obstante a de Santa Catarina, era vista como uma segregação masculina e com o advento das policiais femininas, representou a democratização e a modernização da estrutura institucional, que vem dimensionando a participação tanto na organização interna das corporações, quanto da ótica das relações entre a polícia e a população.

“A presença feminina na corporação trouxe uma face mais acessível e compreensiva de resolver os problemas com a população. A primeira barreira foi aceitar a participação de um efetivo feminino que, inicialmente, era composta por homens, que carregam culturalmente a conotação da figura protetora, além das normas, foi preciso mudar as opiniões machistas e destacar a importância da mulher na Polícia Militar, que inicialmente tinha que dar ênfase na excelência para ser aceita, hoje somos vistas como militares e nossa farda representa uma instituição e não nosso gênero feminino”, explica.

‘Filha’ do 12BPM

A policial é “filha” do 12º Batalhão da Polícia Militar de Balneário Camboriú – fez escola e se formou no 12BPM, num único grupo de mulheres, formadas para atuar em Balneário Camboriú e Camboriú.

“Sempre trabalhei no lugar onde iniciei minha carreira, tenho orgulho dos meus 26 anos dedicados neste Estado. Geralmente temos paixão por aquilo que admiramos, minha relação com a profissão que escolhi vem de criança, sonhava em ser policial militar, brincadeiras sempre tinham “Polícia e bandido”, além deste destaque, crescer na carreira me remetia estabilidade, por ter sido um sonho, para mim sempre é uma missão que se eternizará!”, acrescenta.

Vanuza lembra que o processo para ingressar na PM foi através de concurso público, com avaliação intelectual, física e psicológica, sendo que o primeiro desafio foi passar num concurso tão concorrido, mas se manter no curso também foi uma etapa muito sacrificada, pois exigia uma carga horário muito exaustiva.

“Não tínhamos tempo para a família, que nas maiorias destas etapas ficaram em segundo plano. Contudo, ficar longe dos pais e filhos exigiu força de vontade e motivação para não desistir. Ao ingressar no mundo militar, tivemos que amadurecer como pessoas num caminho diferente do que conhecíamos, era disciplina e hierarquia, manter uma postura digna e respeitosa para jamais denegrir a imagem de uma Instituição honrosa, não digo desafio manter isso, mas não desistir diante das dificuldades que a vida apresenta naturalmente, pois todo o processo é válido quando sabemos onde queremos chegar. Eu ingressei para ser militar de Santa Catarina, sendo esse meu desafio nessa trajetória de sonho realizado”, afirma.

Lembranças dos 26 anos de profissão

Segundo a Sargento, sua maior alegria foi saber que havia passado no concurso e que seu sonho estava prestes a se realizar, quando pegou a farda pela primeira vez, chorou.

“Foi emocionante! Pensava no quanto orgulho misturado ao medo dos meus pais, que temiam pela minha vida. Eu dedico minha vida pela vida de outros, atendi diversas tipos de ocorrências envolvendo pessoas e animais, fatos inusitados e marcantes, do cachorro maltratado, do menor abandonado, das casas em chamas, da mulher e do homem pedindo socorro, dos maus entendidos, dos extorquidos, daqueles enganados, furtados e roubados, da mãe sem esperança pelo filho drogado, da perturbação do sossego que para uns era festa e outros se sentiam incomodados. Já me empenhei em ocorrências de fato que hoje foram revogadas pela lei”, pontua.

Vanuza aponta que todas as ocorrências foram e são tratadas com relevâncias, cada qual, tem seu cuidado e apreço a ser resolvida, mas que têm algumas que a marcaram de fato: ao salvar duas crianças em sua residência em chamas; a vítima jovem de estupro que por fração de segundos não perdeu sua vida quando a socorreram com corte profundo próximo a jugular, e anos depois agradeceu lhe reconhecendo na rua em dia normal de trabalho; a abordagem de frente com os agentes de roubo que foram presos, pois fizeram um casal em lua de mel como vítima, levando carro, dinheiro e demais pertences, tudo recuperado.

Lembra da ocorrência que viraram mais de 24h atrás dos agentes que mataram colegas em serviço.

“E por que não, da ocorrência envolvendo minha própria filha em acidente de trânsito, somos profissionais da segurança, mas mantido por um coração que pulsa lembranças doces, felizes, e outras que marcaram com profundas tristezas. Fiz também parte da equipe de segurança do presidente da República quando nos visitou. Assim seguimos entre tantos momentos marcantes que solidificam nossa trajetória!”, acrescenta.

Questionada sobre como vê o papel da mulher na PM, a Sargento salienta que não são forças auxiliares dos homens, e sim somam a eles, são colegas que usam a mesma farda representando uma só Instituição – aquela que dedicam esforços, indiferente, dos gêneros, masculino ou feminino.

“Nosso papel é manter nosso padrão de atendimento à população, somados aos esforços de todos com mesmo objetivo em servir. Nossa função é não permitir a diferença entre os pares, pois a missão é a mesma na abordagem ao trabalho, preservar a ordem e proteger a vida! Que cada vez mais as mulheres se tornem destaque e referência nas suas funções, fortalecendo as conquistas obtidas ao longo dos anos por todas aquelas que dedicaram suas vidas à nobre missão de servir à comunidade. Eu amo a profissão que escolhi, se for esse o motivo para seguir a carreira, as dificuldades serão superadas com motivação, para isso precisa-se buscar o autoconhecimento do que querem, buscar informações sobre as carreiras, conversar com profissionais mais experientes, sendo ideal unir os interesses pessoais e profissionais. Eu busquei um sonho pessoal na profissão e é isso que deve ser a fonte inspiradora para todos”, completa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.