Criptomoedas e crimes: entenda o que é blockchain e o lado sombrio exposto na Operação Wallet

A expansão das criptomoedas tem atraído não apenas investidores e consumidores, mas também uma parcela de criminosos. Nesta segunda-feira (28), a Polícia Civil de Santa Catarina deflagrou a Operação Wallet, que investiga um enorme esquema de lavagem de dinheiro com o uso de moedas digitais. De acordo com especialistas, a facilidade de transporte, a alta velocidade da transação, o grau de anonimato e a falta de fiscalização tornam as criptomoedas sedutoras para as atividades criminosas.

Operação 'Wallet' desmantela tráfico de drogas que usa criptomoeda

Operação Wallet investiga o uso de criptomoeda no tráfico de drogas em seis cidades catarinenses – Foto: Divulgação/Polícia Civil

Diferente das moedas convencionais, que são reguladas por um banco central, as criptomoedas operam em um sistema descentralizado, onde a autenticidade das transações é garantida por uma rede global de usuários.

Ramicés dos Santos Silva, especialista em cibersegurança da Safera, explica que embora as transações sejam registradas em um “livro” público e imutável (a blockchain), a conexão entre endereços e identidades reais não é conhecida. Essa particularidade das criptomoedas torna as investigações policiais consideravelmente complexas, uma vez que isso dificulta sobremaneira a rastreabilidade.

Rocelo Lopes, especialista em criptoeconomia com experiência na mineração de criptomoedas em escala industrial na América Latina, enfatiza como é difícil encontrar estes ativos digitais. “É possível deletar a carteira do computador, baixar em um pendrive, anotar as senhas em um papel, e ninguém jamais saberá que ela existiu”, conta.

Isso faz com que seja desafiador para as autoridades reconhecerem a senha de uma carteira digital, quando se deparam com uma. “As forças policiais não estão preparadas para identificar que um conjunto de 12 palavras pode ser a chave privada de uma carteira de criptomoeda. E quando o policial identifica a carteira de criptomoeda, nada impede que esse valor seja transferido rapidamente para terceiros”, afirma Lopes.

Ramicés ressalta que, à medida que surgem novas técnicas para facilitar atividades ilícitas, as autoridades devem acompanhar de perto essas tendências emergentes e desenvolver estratégias inovadoras para combater crimes financeiros.

Desafios para as autoridades

Atualmente o mercado de criptomoeda carece de um marco regulatório que previna atividades ilegais. Instituições financeiras têm levantado a bandeira da necessidade de supervisão das transações desses ativos digitais por parte das autoridades, a fim de mitigar riscos de atividades ilegais e fraudes.

É seguro investir em criptomoedas? – Foto: Shutterstock/ND

Ramicés aponta que a cooperação internacional desempenha um papel vital na efetiva repressão dessas atividades. Acordos e plataformas de compartilhamento de informações entre nações podem facilitar a troca de dados e experiências, permitindo respostas coordenadas e mais ágeis às ameaças.

Crimes com criptomoedas

De acordo com especialistas, é imperativo que regulamentações mais rígidas sejam estabelecidas para as criptomoedas. Isso pode envolver requisitos para que as exchanges cumpram padrões de “Conheça seu Cliente” (KYC) e “Antilavagem de Dinheiro” (AML), além da obrigação de relatar transações suspeitas às autoridades competentes.

Embora a transparência nas transações e envolvidos possa desencorajar o uso indevido das criptomoedas, esse cenário também pressiona em direção a um grau de centralização, o que contradiz a essência descentralizada da tecnologia, afirma Ramicés.

Assim como inovações tecnológicas podem ser exploradas para atividades criminosas, também oferecem recursos para o rastreamento e prevenção de tais atividades. Ramicés destaca uma abordagem alternativa por meio da “análise avançada de dados e do uso de inteligência artificial para identificar padrões suspeitos e comportamentos anormais nas transações de criptomoedas”.

“Algoritmos de aprendizado de máquina podem examinar grandes conjuntos de dados para identificar transações incomuns, como transferências de alto valor ou sequências complexas de transações. Isso capacita as autoridades a identificar transações suspeitas para uma investigação mais profunda”, explica.

Operação Wallet

A Operação Wallet, lançada nesta segunda-feira, já resultou na execução de mais de 30 mandados de busca, 17 mandados de prisão e na apreensão de veículos. Além disso, foram bloqueadas 15 contas bancárias e 16 carteiras de criptomoedas em uma das maiores corretoras do mundo.

O grupo sob investigação é suspeito de ser responsável pelo envio, em dezembro de 2022, de uma catarinense presa na Indonésia com uma mala contendo cocaína escondida em um fundo falso. A operação se estende por seis cidades de Santa Catarina: Florianópolis, São José, Biguaçu, Imbituba, Camboriú e Navegantes.

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